quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Um livro... sobre o Porto de Aveiro


Destaco a entrevista dada pela Prof. Doutora Inês Amorim ao “Diário de Aveiro”, a propósito do próximo lançamento do livro de sua autoria «Porto de Aveiro – Entre a Terra e o Mar». O lançamento da obra desta reputada investigadora integra o programa das comemorações do 3 de Abril de 2008.

«Acho que a história dos portos de Portugal é uma história por fazer», refere Inês Amorim, autora do livro «Porto de Aveiro – Entre a Terra e o Mar», que tem procurado contrariar essa condição. As comemorações do bicentenário da abertura da barra de Aveiro tornaram-se no cenário ideal para a apresentação do seu mais recente livro «Porto de Aveiro – Entre a Terra e o Mar» – o título do livro é suficientemente lato para abranger tudo, sobretudo, para expressar que este é apenas o princípio da investigação, explica Inês Amorim, autora da referida obra, que será apresentada no dia 3 de Abril, naquele que será um dos momentos chave das comemorações do bicentenário da abertura da barra de Aveiro. Docente de história há 25 anos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Inês Amorim não é estreante na investigação em assuntos marítimos – na sua tese de doutoramento já tinha tido contacto com a documentação portuária. «Sal, pescas, portos – é a minha área de estudo», enumera a escritora, que já teve intervenção em diversos projectos, como é o caso do «Hisportos».


«A história do Porto de Aveiro é, do meu ponto de vista, a história da manutenção da barra – que é um processo difícil de se fazer. Desde 1808, a barra manteve-se no local em que se encontra actualmente, mas a partir das obras de abertura, desenvolveu-se um outro processo para tentar manter esta barra e corrigir alguns aspectos que não foram conseguidos, porque o processo de assoreamento continuou a existir», argumenta a investigadora. «É um processo muito rico, do ponto de vista das relações entre os poderes locais, a população local e os interesses nacionais. Por isso, a história da barra é uma história muito dinâmica», defende Inês Amorim.


Após as investigações realizadas, Inês Amorim garante que a abertura da barra teve «um impacte felicíssimo. Os seis anos, de 1802 a 1808, foram tempos duríssimos e, ao mesmo tempo, períodos de paixões, em que as pessoas ora adoravam o engenheiro responsável pela obra, ora o ameaçavam, porque não se podia fazer sal, nem produzir pão, nem navegar. Não se podia fazer praticamente nada». A autora do livro classifica aquela época como «terrível», cheia de dificuldades, mas ao mesmo tempo extremamente rica. Em plenas invasões francesas, em 1808, o Porto de Aveiro tornou-se num ponto estratégico, passando, por isso, a existir apoio por parte do poder central no sentido de prosseguir com a obra. Tal como conta a historiadora, Luís Gomes de Carvalho, engenheiro, chegava a referir-se à abertura da barra como a um segundo dia da «criação».



«Porto de Aveiro – Entre a Terra e o Mar» encontra-se dividido em três partes. Na primeira, Inês Amorim escreve sobre a evolução do litoral, as condicionantes e justificações económico-sociais que proporcionaram a abertura da barra de Aveiro. A realização desta obra era importante por questões de navegabilidade, salinidade, etc., mas há um conjunto de produtos fundamentais que vão determinar e justificar a construção do porto, indica Inês Amorim. Como porto interior, é a partir da década de 20 que este se começa a desenhar. «Não há um porto, mas sim muitos portos ao longo da ria – e isso é uma das suas qualidades», revela a investigadora. O sal, o moliço e o junco são fundamentais, mas é o bacalhau que faz desta zona um dos maiores portos nacionais, que pressiona a solidificação do porto de pesca longínqua e costeira, conta Inês Amorim.

A segunda parte da obra destaca o tema da estrutura orgânica e os diferentes sistemas administrativos do porto, desde a superintendência, passando pelas diferentes juntas autónomas, até à actual Administração do Porto de Aveiro, constituída em 1998. A partir de 1802, definem-se duas áreas: a administração (gestão financeira e de pessoal) e a engenharia (direcção de obras), explica a autora do livro. Nas várias juntas houve figuras públicas da cidade, que acabaram por participar activamente na gestão, tendo sido muito reivindicativos junto do governo central, sobretudo relativamente ao financiamento e à a independência económica, acrescenta.

Já a terceira parte do livro abrange a documentação relacionada com a engenharia da abertura da barra, ou seja, a cartografia, os planos que se vão fazendo sucessivamente. «Existem muitas descrições, imagens e desenhos da barra, feitos, sobretudo, pelos holandeses», revela Inês Amorim, acrescentando que depois do desenho e, a partir da década de 30, começam a surgir várias fotografias das obras. As obras de abertura da barra dividiram-se em diferentes fases e diversos engenheiros tanto portugueses, como holandeses, italianos, franceses, ingleses, entre outras nacionalidades. «Há nomes que conhecemos, que marcaram, definitivamente, a história da engenharia em Portugal, que têm uma produção cartográfica extraordinária», refere a historiadora.



Fonte: Newsletter Porto de Aveiro, edição nº 124, de 20 Fevereiro 2008

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