«Parece que finalmente todos compreenderam as palavras avisadas de Raul Brandão: «Ninguém aqui vem que não fique seduzido, e, noutro país, esta região seria um lugar de vilegiatura privilegiado. É um sítio para contemplativos e poetas: qualquer fio de água lhes chega e os encanta. É um sítio para sonhadores e para os que gostam de se aventurar sobre quatro tábuas, descobrindo motivos imprevistos.
É-o para os que se apaixonam pelo mar profundo e para os medrosos que só se arriscam num palmo de água – porque a ria é lago e mar ao mesmo tempo. Com meios muito simples, um saleiro e uma barraca, tem-se uma casa para todo o Verão. Pesca-se. Sonha-se. Toma-se banho.
Esquece-se a vida prática e mesquinha. Dorme-se ao largo, deitando-se a fateixa ou abica-se ao areal: um fogaréu, uma vara, a caldeirada…» Apesar das mudanças das últimas décadas, a influência da ria, desse mar de água pouco profunda, das suas ilhas, dos meandros de canais e esteiros, continua decisiva no ar que respiramos. Na temperatura. Na humidade. Na luz que nos inunda e envolve. Na fina neblina que adoça cores e formas. No nosso olhar. Na nossa identidade.
Com uma superfície de cerca de 11.000 hectares – 6.000 ocupados permanentemente pelas águas, 2.000 por salinas, cuidadas, abandonadas ou convertidas à piscicultura, e a restante por praias, cuja formação está ligada à ocupação agrícola, a ria de Aveiro é incontornável. Só por cegueira foi possível ignorá-la tanto tempo…" »
In: Aveiro, Cidade de Água, Argila e Luz - Câmara Municipal de Aveiro, 2004
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